Arpoador

Arpoador

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Adieu

Ao acordar, um homem se vira na cama e não vê sua mulher; pensa apenas que ela se levantou cedo e então logo voltou a dormir; algumas horas depois ele acorda, levanta e segue para sala, e não vendo sua mulher se pergunta onde ela terá ido; vai até a cozinha para preparar alguma coisa para comer; prepara ovos mexidos e um café, volta para a sala, liga a TV e quando se senta para comer se depara com um bilhete; não era um simples bilhete e sim, uma carta de despedida – a carta dizia:
- Querido, é muito difícil descrever o que sinto agora, neste momento, mas eu preciso ser forte e fazer isso. Gradativamente eu te descobrir e te percebi como sendo meu e sendo o meu mais importante acontecimento; hoje, num momento de reflexão, pensei no quanto estúpida seria eu em desperdiçar o que você estava sugerido me dar no início de nosso envolvimento; percebo o quanto feliz eu fui em ter te encontrado; a tua sinceridade, o teu amor, me fizeram a pessoa mais feliz do mundo; você não me pedia para eu ser diferente, coisa que eu não seria, você me queria, apenas queria, como eu era, como eu sou; fui feliz, tão feliz que te escrevo com lágrimas nos olhos, mas agora tudo parece ter mudado, as cobranças, os ciúmes, tudo veio com o passar do tempo e eu não suporto cobrança, restrições, tudo isso eu detesto e me causa desconforto; já não aguento mais e por isso estou indo embora; sinto um enorme vazio neste momento que não consigo descrever, uma dor imensa toma conta de mim, sou tão apegada a ti, mas não sinto mais o mesmo que sentia antes – por favor, não me procure, me deixe ficar só... Te cuida.
Ele terminou de ler a carta e desconsolado, só pensou em vê-la uma última vez para lhe dizer – Obrigado, por ter me amado!

domingo, 19 de setembro de 2010

Acordou, o relógio marcava 14h e 16 minutos, levantou e molhou o rosto, leu as anotações que havia feito durante a madrugada e vira que não ficara nada bom; percebeu que precisava sair - tomar um pouco de ar, para que as idéias pudessem novamente surgir; tomou banho, comeu a comida fria da geladeira e se atirou nas ruas procurando a inspiração que lhe havia fugido, como uma ex-namorada que não pensa mais em olhá-lo; Parou numa praça, depois em um boteco para escrever e não conseguindo foi ao cinema – Quem sabe uma sessão de arte não me fará bem! – Pensou consigo mesmo; ao sentar-se numa poltrona e vê a sua frente à tela branca do cinema, com luzes amarelas incidindo sobre aquele enorme plano vertical, teve a sensação das luzes do cinema lhe aquecer e acelerar o monótono batimento do seu peito, quando viu passar na tela de cinema eventos os quais ele havia passado, lembranças que não foram apagadas, que fazem de sua vida agitada e cheia de histórias pra contar...
E num conto contínuo onde um cara mergulha num eterno vazio profundo ele se concentrou...


sábado, 18 de setembro de 2010

Matemática

Un
Deux
Trois

Penso para dormir
Durmo pensando
E sonho pensando que estou
Sonhando
Ao sonhar
Viajo com alguém
Ao acordar
Estou do lado de quem sonhei

Mas se durmo pensando em ti

        Logo,
 antes de dormir estava pensando
Pensando em ti eu estou
Então, sonho que estou pensando
Que estou sonhando que contigo estou
Se acordo pensando no que sonhei
Acordo contigo na cama

Ah, Maldita lógica matemática!


O tempo

Penso que o tempo que passa
Sugere que eu morra
Ou que ele próprio
Irá me matar
Se eu não quero
Morrer
Mato o tempo
Para ele não me matar
Mas o tempo é invisível
Eterno
Absoluto
O tempo é um Deus
Que não pára
Nem por um só segundo



domingo, 12 de setembro de 2010

Um barato perdido na imensidão do universo sem fim

Eu não sei
O que será do meu amanhã
Do depois do amanhã
Os ventos já não me dizem
E eu,
Não procuro mais resposta
Não sei se fico,
Ou se vou
Sei que sou produtivo
A improdutividade não me pegou
Sou grato pelas experiências que vivi
E penso nelas todos os dias
Sinto um barato perdido na imensidão do universo sem fim
As lembranças me perseguem
Acompanham-me
Não consigo
E nem quero esquecer-me de nada
Mesmo que as lembranças
Sejam como um castigo
Que eu tenho que provar todos os dias.
E assim recordo-me
Das doses que tomei

Tomei uma
Duas
Três doses
Tomei muitas doses
Passei dois anos
Tomando doses incontroláveis
De um veneno
Que um dia ia se acabar
E assim me deixar louco
Neurótico, faminto
Por doses que eu já não iria mais encontrar
Mas que ficará
Mnemonicamente guardado
Em meu paladar apurado
À espera de uma nova chance
De novamente poder provar.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Coisas que acontecem



O amor me deixou improdutivo
Cercado de coisas mórbidas
Que parecem nunca passar

Sinto-me pequeno
Perto do que o mundo tem a dar
Sou solitário se você aqui não está

Percebo que o que importa
É o que temos, e se pensamos,
Pouco entendemos do pouco que pensamos saber

Sei que o desejo de amar
É mais eufórico do que está amando
E se está amando, o ser se sente realizado.

Completado o primeiro percurso
É iniciada a trajetória retrograda
Que é percorrida com maior velocidade.



Analogia do campo magnético e o amor


Assim como o campo magnético da terra

Que a cerca em toda a sua dimensão

Eu quero ser um tipo de campo magnético

Que te envolva num estado de excitação

Quero ser norte e que você seja sul

Não quero a distância que os separa

Mas o sentido cego da direção que os une

Que a corrente que nos gere

Seja tão forte quanto nossa solenóide de união

Que nos deixa unidos num circulo continuo de emoção

O campo gerado é tão forte que não se esvai no raio da separação.